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O teu filho ser metódico é sinal de falta de saúde?

Olhando para o teu filho consegues perceber se este é metódico, meticuloso e muito apegado a rotinas e a hábitos?

Muitas vezes é difícil apercebermo-nos de certos pormenores nos comportamentos dos nossos filhos, que fazem toda a diferença quando toca à saúde das nossas crianças.

O que é ser metódico?

Querer tudo certo, da mesma maneira, com sequências, muito apegado a rotinas e a hábitos.

Com muitas dificuldades em aceitar a mudança, mudança nos hábitos, não querer vestir roupas que não conhece, mudanças no quarto, na casa, não querer dormir noutro lugar, não querer andar em carros diferentes do que está habituada.

Tudo isto são comportamentos metódicos que se traduzem em comportamentos de insegurança.

Então, mas não é importante existirem rotinas na vida da criança?

As crianças precisam de algumas rotinas, qb, porque são mais dependentes e é necessário ter alguma disciplina na alimentação, no sono da criança, porque mais tarde podem surgir alguns problemas aliados a essas situações.

Mas atenção que rotina não é de forma alguma rigidez!

A criança pode comer quando tem fome e dormir quando tem sono. Caso exista rigidez, vai trazer uma necessidade, uma dependência para saber tudo o que pode contar e o que pode acontecer. Nada que é rígido é saudável.

Realmente, muitas vezes a rigidez pode vir dos hábitos e rotinas impostas pelos pais, mas não só. As crianças podem ser meticulosas e muito apegadas a essas rotinas impostas e outras crianças que sigam as mesmas rotinas, mas se estas não acontecerem está tudo bem e corre tudo normalmente.

E isso deve ser o normal na criança, ser espontâneo e estar presente no momento presente.

E será necessário existirem rotinas para tudo?

Não é necessário, nem convém.

  • Se, por exemplo, costumas contar uma história para dormir. A criança pode passar uma noite sem a história e mesmo assim conseguir adormecer.
  • Horários de comer, dormir, etc. Se estás de férias, é bom que os horários mudem e sejam mais leves. A criança deve conseguir acompanhar e até aproveitar, esta mudança de forma leve.

Podes muitas vezes ver isto já nos adultos. Um adulto que vai de férias, na manhã a seguir à primeira noite passada fora, geralmente acorda a dizer que não conseguiu dormir pela cama. A obstipação do viajante, acontece quando existe uma mudança de casa, dos horários…

Identificar crianças metódicas e meticulosas

  • Crianças que não dorme sem a sua história ou o seu boneco ou manta;
  • Comida que se toca dentro do prato;
  • Crianças muito seletivas no que toca à comida e aos alimentos. Algumas só consomem farináceos, amiláceos e bananas;

Uma seleção escolhida pela criança para não existir muita diferença e segurança, saber com o que pode contar.

  • Crianças que vão de férias e ficam ou doentes ou de mau humor durante as férias, mesmo sem razão aparente.

Estes são alguns exemplos, quer nas crianças, quer nos adultos, do apego à rigidez, à rotina, que os torna meticulosos e metódicos.

A criança precisa saber lidar com a mudança? Até que ponto isso é importante?

A mudança faz parte da vida, sejam grandes mudanças sejam ligeiras. Nada é permanente.

Neste sentido, é necessário mostrar à criança que é possível ser flexível, para não entrar num apego nem num padrão de rigidez.

Quando a criança entra neste padrão, a rotina já não é um auxílio é uma dependência, ela começa a precisar da rotina e não a ser auxiliada por esta.

E porquê a criança precisa da rotina desta forma?

Porque a criança sem a rotina deixa de se sentir segura. Acaba a rotina acaba a sua segurança.

Perde o chão debaixo dos seus pés e sente-se como se fosse morrer.

A necessidade da criança é tão grande por esta segurança, que pode ir ao extremo de quase querer adivinhar o futuro, por querer ter controlado cada minuto da sua vida.

Como é que a criança aprende a lidar com a mudança?

Vivendo a mesma tranquilidade quer na rotina e quer na mudança. Fazendo da mudança, quando esta acontece, uma normalidade. É normal haver mudança na vida.

E quem é que promove esta tranquilidade à criança?

Os pais!

Isto é um exercício para os pais. Primeiro o adulto aprende a reagir à mudança com serenidade e a criança, como aprende com os exemplos, com as ações dos pais, irá ela própria aprender a reagir com tranquilidade.

Porque o apego por parte das crianças à sua rotina, vem exatamente da necessidade que os pais têm de controlar tudo. Porque os pais sentem que ao controlarem tudo, estão a fazer bem.

Eles próprios quando existe uma quebra na rotina sentem uma quebra na sua segurança.

E aqui uma chamada de atenção:

Esta tranquilidade e sentido de segurança, deve ser criado na família e nas pessoas próximas da família e nunca nos objetos. Porque este sentimento de segurança deve ser sempre cultivado entre pessoas e não com coisas materiais ou locais. Apego à família.

Devemos cultivar a cultura da família, que integra a segurança, de forma a que a criança quando perde alguma coisa, seja material, um amigo, o que for, se possa apoiar na família, no seu apego e segurança, aí vivido.

Por exemplo, tudo pode correr mal durante o dia, cansaço, comer que não gosta, perdeu o brinquedo favorito, carro que avariou, pés molhados, mas no fim tem lá a sua mãe e/ou o pai e vai dormir com um sentimento de tranquilidade e segurança.

Isto é um reforço de segurança: esteja eu em que contexto estiver, eu tenho os meus pais e, por isso, tudo o que eu preciso vai-me ser providenciado.

Até que ponto é natural a criança não se adaptar à mudança?

É normal a criança não se adaptar imediatamente à mudança, mas de semana para semana, vermos várias alterações que definem a sua adaptação a essa mudança.

É preciso ter atenção que, esta adaptação não deve ser feita com qualquer imposição e rigidez, senão estaríamos a dar um passo atrás.

E, também, é normal, por vezes, a criança ter necessidade de voltar a alguma rotina, para depois avançar na mudança.

E quando já num padrão de rigidez, o que podemos fazer para mudar esta situação?

  • Devemos começar por introduzir pequenas mudanças, subtis, fáceis de acompanhar e não fazer da rigidez ou do padrão metódico, um grande problema.

Introduzes a mudança com tranquilidade, com segurança, não voltando atrás, não justificando, nem pedindo desculpa por a estares a introduzir.

E não ficas a criar macaquinhos na tua cabeça, sobre se devias ou não implementar essa mudança, sobre se vai reagir bem ou aal… Básicamente sem preconceber nenhum comportamento ou reação. Implementas e pronto.

Lá está, novamente, lidar com o comportamento com serenidade de modo a criança sentir segurança para avançar pequenos passos de cada vez.

E em seguida vais respirar, quer estejas sozinha, quer esteja com o teu filho. Pões um alarme e, por hora, respirar 4 vezes. Inspiras, expiras, soltas mesmo um suspiro, tranquilizas e acalmas o teu corpo, os teus órgãos e, assim, mostras e transmites ao teu filho tranquilidade, serenidade e segurança.

E que mudanças podem ser essas?

Podes começar por introduzir um alimento novo, um horário de comer diferente.

  • Oferecer esses alimentos de forma diferente.
  • Passar um fim de semana num sítio diferente.
  • Vais introduzir ligeiras mudanças que fazem sentido para a vossa vida familiar.

O que é que é normal a criança não se adaptar?

É normal a criança não se adaptar a separar-se dos seus pais. É normal, é aceitável e expectável.

Quando estas referências estão integras na mente da criança ela é capaz de se adaptar a tudo, apreciar a mudança porque vive no momento presente e estar segura nas situações que fogem às rotinas necessárias do dia-a-dia.

O que acontece na saúde da criança que tem apego à rotina, que tem rigidez e resistência?

O impacto na sua saúde da criança traduz-se na falta de segurança. Muito similar ao que falámos no artigo sobre a timidez.

A criança não navega pela vida com tranquilidade. Sente que as pessoas são hostis, não sabe muito bem com o que contar e, então, entra no tal modo de sobrevivência.

A situação do leão é exemplificativa. Nesta situação o teu corpo entra em modo poupança para que tenhas energia suficiente para fugir ou lutar.

Os órgãos param, restringem-se ao mínimo de sobrevivência. E, neste modo, tudo está preparado para sobreviver e não viver.

A criança que não sente segurança, entra muitas vezes neste modo de sobrevivência e, como consequência, dado ao fraco funcionamento dos seus órgãos, vai desenvolver doenças associadas a esse mesmo modo de sobrevivência.

Por isso, é importante que a criança viva num ambiente com tranquilidade e segurança para que se possa desenvolver num padrão de crescimento normal e saudável.

E este é um grande impacto na saúde da criança.

Não é normal querer-se tudo sempre igual, tudo da mesma maneira, sem flexibilidade, e reagir mal à mudança enquanto criança.

Essa criança um dia vai crescer e toda a mudança vai limitá-lo, vai deixá-lo sem chão, inseguro, e com problemas de saúde por estar em constante alerta e em modo de sobrevivência.